A glória de Deus e a glória meramente humana



Por Nonato Souza

“Mas longe esteja de mim gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, pela qual o mundo está crucificado para mim e eu, para o mundo” (Gl 6.14).

Deus deve ser amado acima de todas as coisas. Pelo menos é isso que aprendemos através da inerrável Palavra de Deus: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu pensamento” (Mt 22.37). Quando analisamos o quanto Deus ama o homem, passamos a entender o porquê de tão grande amor. Esse amor com que somos amados por Deus, é capaz de nos transformar para que também possamos amá-lo. O grande amor de Deus atrai para si adoradores que de coração totalmente devotado, lhe tributam glória.

Nas Escrituras a palavra “glória”, está relacionada ao conceito de dignidade, beleza, excelência. Doutrinariamente se refere a Deus, a glória do Senhor. A palavra hebraica kadod, traz o conceito de “peso, dignidade, brilho, beleza radiante”. Quando se tributa glória a alguém, se reconhece o seu valor, dignidade, beleza, etc. Tributar glórias a Deus, não é nada mais que reconhecer-lhe a grandeza, senhorio e soberania. Uma vida de louvor e de comunicação sincera acerca das verdades de Deus glorifica o Seu nome. Fomos chamados para fazer conhecido na terra o nome de Deus e sua glória. Quanto mais conhecido se torna o nome de Deus, mais verdadeiramente adorado será. “Todas as nações que fizestes virão e se prostrarão perante a tua face, Senhor e glorificarão o teu nome” (Sl 86.9).

O grande amor de Deus por toda humanidade e o reconhecimento desse amor por seus filhos, levará o cristão a oferecer de livre vontade, gratidão e lealdade a Deus, dia a dia. Quando nos aproximamos de Deus com amor sincero e verdadeira adoração, Deus nos confere seu amor e graça (2Co 12.9). Fomos salvos para sua glória, para servir a Deus em atitude de adoração. Na verdade a excelência não é nossa, mas de Deus.

A glória de Deus no Novo Testamento está relacionada a Cristo. Em Cristo a glória de Deus chega ao seu clímax máximo, pois cumpriu seu ministério com o objetivo de glorificar universalmente o Pai: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17.4). Através da obra que Cristo realizou no Calvário, o trabalho da redenção foi concretizado, quando comprou para si, povos de todas as tribos, línguas e nações, objetivando glorificar o Pai.

Apóstolo Paulo viveu o seu ministério sempre com objetivo de glorificar a Deus e revelar Cristo e sua salvação aos povos (1Co 10.31). O que ele havia alcançado de Deus, o levava a anunciar com o mesmo zelo aos povos às verdades do evangelho de Cristo. O alvo de Paulo era glorificar a Deus através de sua vida e testemunho, para que pudesse apresentar a maior quantidade possível de pessoas a Cristo. Essa era sua glória (1Ts 2.6-12). O alvo de Paulo era tão preciso que por nenhum momento se preocupou em agradar a homem algum, senão a Deus (Gl 1.10; 1Ts 2.4), ao final de sua vida pode glorificar a Deus por ter cumprido sua missão (2Tm 4.6-8).

A glória dos homens, têm levado muitos ao fracasso total em sua vida espiritual e ministério. Ora, mas quem nunca se gloriou por algum feito que tenha realizado? Quem nunca se envaideceu por ter alcançado uma grande conquista? Apóstolo Paulo chegou a se gloriar dentro da medida (2Co 11.17,18; 12.1,5,6). Buscar glória para si parece ser algo que aquece e inflama o coração do homem. O homem gosta de gloriar-se nos seus feitos. Vivemos numa sociedade que nos incentiva pela busca de realizações e a alcançar aquilo que nos interessa e nos satisfaz, ainda que pra chegarmos lá tenhamos que agir de qualquer forma, mesmo fora de padrões estabelecidos na Palavra de Deus.

Quando estão em busca de glória terrena, fama, status, cargos, títulos, muitos se entregam à mentira, engano, corrupção, troca de acusações, as mais esdrúxulas possiveis. Estão dispostos a cometer qualquer tipo de atrocidade com objetivo de alcançar posição e satisfazer o intento do seu coração enganoso. A ganância e insensatez têm levado muitos a uma vida de total descontrole e fracasso espiritual. Vemos, com tristeza em nossos dias líderes, organizações a se digladiarem com atitudes totalmente carnais, levando uns aos outros às barras de tribunais da justiça comum para alcançar êxito em suas pretensões, sem se importarem com o ônus causado ao Reino de Deus entre os fiéis. Fica difícil de entender o porquê de tamanha ganância no coração de homens que são considerados “homens de Deus. Estes, que assim se comportam, não estão nem um pouco preocupado com o cuidado que se deve ter consigo mesmo e com a doutrina (1Tm 4.16).

Parece que a vida de piedade tem se ausentado de muitos que dizem servir o Senhor, e, principalmente de muitos líderes. Não basta subir a uma tribuna e proferir palavras e mais palavras, pois, ainda que elas provoquem algum tipo de emoção, o que falará mais alto é a vida de piedade (1Tm 4.8). A vida de um líder, pregador, ensinador, fala mais alto através do seu testemunho acerca do que faz e da maneira como vive, que os sermões por ele proferidos de uma tribuna. Alguém, algures, já disse que “a vida do ministro é a vida do seu ministério”, aquilo que se vive no púlpito, se deve viver entre os fiéis. Ora, é evidente que se não formos limpos em nossa vida privada, seremos privados da graça imensurável do Senhor em nossa vida e cotidiano, quando dela precisarmos. Muitos através dos seus maus exemplos estão expulsando as pessoas para longe de Cristo ao invés de trazê-los para perto. D. L. Mood, disse que “o principal problema da obra são os obreiros”. Se isto é assim, estamos com sérios problemas, pois cada dia que passa consagramos mais obreiros e, desses, alguns estarão nos dando dores de cabeça, pois não tem como alvo principal glorificar a Cristo, mas buscar glória para si próprio, estão objetivando alcançar apenas posição.

Tem muita gente despreocupada com o Reino de Deus à sua volta, seu alvo não é nem de longe glorificar a Deus, senão buscar sua própria glória. São hipócritas. “O personagem que representamos no palco da vida, com os cosméticos da vaidade e sob as luzes da autoglorificação, é diferente do “eu” que existe no recesso da nossa intimidade, sem as máscaras da hipocrisia” (Hernandes Lopes). É certo, que muitos vivem vida de hipocrisia, tentam manter as aparências, mas é só aparência mesmo. Comportam-se como moralistas, exigem vida correta dos outros, reprovam sempre quando se trata de outras pessoas, “atam fardos pesados e difíceis de suportar e os põem aos ombros dos homens”, mas eles mesmos não querem carregar (Mt 23.4).

O comportamento duplo de alguns chega ao extremo de macular o que ensina a Palavra de Deus, pois usam de dois pesos e duas medidas em suas ações. Trata a alguns com o rigor da lei, mas a si com as delícias da graça. Celebram suas conquistas e vitórias, mas ficam prezerosos com o fracasso dos outros. Que tristeza!

Tiago diz àqueles que se gloriam em suas presunções, ser este um comportamento maligno (4.16). Ora, vejam como é triste quando pessoas, líderes, obreiros, que deveriam se concentrar na vontade de Deus para suas vidas e planos, se põem a gloriar-se como se tivessem domínio sobres suas vidas e seu próprio destino. Tiago diz que toda glória tal como esta é maligna, porque não leva Deus nem sua glória em consideração. Os cristãos para quem Tiago escrevia estavam, de fato, mostrando certo prazer em sua autossuficiência.

É tempo de tributarmos ao Senhor glorias e louvores, e isso com todo o nosso ser. Não é isso que pede o salmista? “Tributai ao Senhor, ó família dos povos, tributai ao Senhor glória e força. Tributai ao Senhor a glória devida ao seu nome; trazei oferendas, e entrai nos seus átrios. Adorai ao Senhor na beleza da sua santidade; tremei diante dele todas as terras. Dizei entre as nações: Reina o Senhor” (Sl 96.7-10). Fica, portanto, essa recomendação bíblica a todos neste tempo presente: “Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Ap 2.7).

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