O poder da língua para o bem ou para o mal
Por Nonato Souza
Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres, sabendo que receberemos mais duro juízo.
Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça em palavra, o tal é perfeito, e poderoso para também refrear todo o corpo.
Ora, nós pomos freio nas bocas dos cavalos, para que nos obedeçam; e conseguimos dirigir todo o seu corpo.
Vede também as naus que, sendo tão grandes, e levadas de impetuosos ventos, se viram com um bem pequeno leme para onde quer a vontade daquele que as governa.
Assim também a língua é um pequeno membro, e gloria-se de grandes coisas. Vede quão grande bosque um pequeno fogo incendeia.
A língua também é um fogo; como mundo de iniquidade, a língua está posta entre os nossos membros, e contamina todo o corpo, e inflama o curso da natureza, e é inflamada pelo inferno.
Porque toda a natureza, tanto de bestas feras como de aves, tanto de répteis como de animais do mar, se amansa e foi domada pela natureza humana;
Mas nenhum homem pode domar a língua. É um mal que não se pode refrear; está cheia de peçonha mortal.
Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus.
De uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não convém que isto se faça assim.
Porventura deita alguma fonte de um mesmo manancial água doce e água amargosa?
Meus irmãos, pode também a figueira produzir azeitonas, ou a videira figos? Assim tampouco pode uma fonte dar água salgada e doce (Tg 3.1-12; BKJ Atualizada).
O cuidado com o uso da
língua.
Nos capítulos iniciais de
sua epístola Tiago menciona que o crente amadurecido é capaz de pacientemente
suportar tribulação e viver na prática da verdade. Nesta mesma linha de ensino
ele trata de mais uma característica do cristão amadurecido: o controle da
língua.
Os cristãos para os quais
Tiago escreveu, parece que estavam tendo problema com o controle da língua. É
exatamente para eles que o apóstolo escreve no princípio de sua carta
advertindo-os: “todo o homem seja pronto para ouvir, tardio para falar, tardio
para se irar” (Tiago 1.19), isto, porque no entendimento de Tiago todo cristão
que não refreia a sua língua, não deve ser considerado legitimamente um
autêntico religioso (Tiago 1.26). A língua é de um poder terapêutico
impressionante. Através dela, pessoas foram levantadas, curadas, estimuladas a
continuar caminhando, avançando, tudo através de uma boa palavra, de bons
conselhos. Se uma pessoa está enferma, doente, abatida, triste, desanimada, e
alguém vêm ao seu encontro lhe trazendo uma palavra animadora, oportuna,
apropriada, certamente, aquela palavra como bálsamo a estimulará, trazendo-lhe
alento imediato. No entanto, o oposto também é verdadeiro. Já testemunhei casos
de pessoas que foram destruídas por palavras insanas. Há palavras que ferem
mais que espada afiada. Se usada de forma torcida, diabólica, falsa e
tendenciosa, a língua será sempre um instrumento de destruição.
Salomão, em Provérbios
6.16-19 lista uma seleção de várias atitudes pecaminosas que devem ser
detestadas pelo cristão por serem abomináveis ao Senhor. Observa-se que destes
sete pecados mencionados três estão relacionados ao pecado da língua: “língua
mentirosa”, “testemunha falsa que espalha difamação” e “aquele que provoca
contendas entre irmão”. Ora, Deus detesta tais comportamentos porque “violam a
decência humana, vida em comunidade, e a base da vida como estava nos
propósitos de Deus”. O cristão deve ser cuidadoso no uso da língua, com ela
pode-se destruir vidas.
Os
mestres e o cuidado em usar a língua para edificar.
Os que lidavam com o
ensino da Palavra de Deus, eram detentores de maior responsabilidade, pois,
deveriam cuidadosamente usar a língua para compartilhar as verdades de Deus.
Sendo conhecedores da facilidade que se tem em pecar com a língua, os mestres
devem ter maior cuidado em praticar o que ensinam, para não se tornarem
verdadeiros hipócritas. Imagine o tamanho do dano que poderá causar um mestre
despreparado, por sua vida não condizer com os seus ensinamentos. Além disso, a
orientação bíblica é de que o mestre terá um juízo maior. Quanto maior
conhecimento for detentor o mestre, mais responsabilidade tem diante de Deus e
dos homens. O critério do juízo será mais rigoroso. Não tenha dúvida.
Este cuidado, porém, não é
apenas dos mestres. Todo cristão precisa está consciente que “todos tropeçamos
em muitas coisas” (Tiago 3.2). O apóstolo está dizendo claramente que todos nós
podemos tropeçar, principalmente quando se trata da fala. Por termos esta
tendência terrível para cometer tais erros, precisamos ter ainda mais cuidado,
sendo vigilantes ao ponto de permitirmos que Deus controle o que falamos. Deus
é capaz de orientar as nossas motivações, os nossos pensamentos, escolha de
palavras e ainda o impacto que poderá causar as nossas palavras sobre outros.
Para alcançarmos este nível espiritual, precisamos maior comunhão com Deus
através da meditação constante na Palavra de Deus e oração o que certamente
trará ao cristão maior maturidade e consequentemente controle da língua (Tiago
1.19).
Em confronto direto com os
fariseus, religiosos da sua época, Jesus mencionou que a boca fala do que o
coração está cheio (Mateus 12.34), objetivando mostrar que aquilo que há dentro
de uma pessoa afeta o que ela faz com as suas palavras. Somos informados pela
Palavra de Deus que o homem mal tem um mau tesouro em seu coração e, deste
procedem as más palavras que desonram a Deus e ferem o próximo.
Tiago mostra que se
disciplinarmos a nossa língua conseguimos também controlar o nosso corpo, o que
é um sinal de maturidade. Quando se busca a sabedoria divina e o autocontrole
dado pelo Espírito Santo, é possível alcançar tal estágio se tornando um
cristão amadurecido (Provérbios 15.1-4).
A
língua tem o poder de dirigir.
Ao apresentar o exemplo do
freio e do leme, Tiago mostra quão pequenos são, mas o poder que tem, à
semelhança da língua. Com um pequeno freio se controla um grande cavalo e com
um pequeno leme o timoneiro controla um navio enorme. Assim também a língua, um
pequeno órgão no corpo, mas tem o poder de realizar grandes coisas. Nossa velha
natureza por muitas vezes quer nos levar a dizer coisas indevidas trazendo
prejuízos ao Reino de Deus ao nosso próximo e a nós mesmos. A solução é nos
deixar dominar pela mão forte do nosso Criador que é capaz de controlar os
impulsos, por maiores que sejam. Ninguém se engane, “a morte e a vida estão no
poder da língua” (Provérbios 18.21), e o cristão sábio evitará andar por este
caminho. O salmista Davi preocupado com o péssimo resultado na vida dos
difamadores orou: “Põe, ó Senhor, uma guarda à minha boca; guarda a porta dos
meus lábios. Não inclines o meu coração para o mal, nem para se ocupar de
coisas más com aqueles que praticam a iniquidade; e não coma eu das suas
delícias” (Salmos 141.3,4). Não deveríamos seguir o exemplo do salmista neste
quesito?
O freio na boca dos
cavalos o leme nas grandes embarcações tem como objetivo, dirigi-los. Assim
também as palavras tem grande importância para orientar pessoas a fazer
escolhas certas e levá-los ao bom caminho. O livro de Provérbios está recheado
de bons conselhos, especialmente na forma correta de usar a língua. A citação
de alguns textos é importante aqui:
“A resposta branda
desvia o furor, mas a palavra ríspida desperta a violência” (Pr 15.1);
“O Senhor tem ódio
mortal da boca mentirosa; mas se compraz imensamente com os que falam a
verdade” (Pv 12.22);
“Quando se fala demais é certo que o pecado está presente, mas quem sabe
controlar a língua é prudente” (Pv 10.19);
A
língua pode construir e destruir relacionamentos.
Se não houver um controle
da língua, o risco que se corre de destruir relacionamentos, em especial, com
pessoas que nos cercam, é muito grande. Isto porque com a língua orientamos
tanto para o bem como para o mal.
Dentre as várias figuras
que Tiago lança mão para ilustrar o mal devastador da língua, ainda encontramos
a figura do fogo e do veneno. Ele diz
que um bosque imenso pode ser incendiado apenas por uma fagulha. Imagine como
começa um incêndio de proporções gigantescas. Uma simples e pequena centelha
prestes a se apagar de tão pequena que é, vai crescendo, e de um vislumbre, aumenta
tanto que é capaz de destruir uma cidade inteira ou grandes extensões de
florestas virgens. Assim também as palavras; podem começar e chegar a incêndios.
Um comentário maledicente se espalha como uma labareda de fogo; por onde passa
vai provocando destruição. Assim como o fogo cresce, espalha, fere, destrói e
trás sofrimento e destruição, assim é também o poder da língua.
Tenho tido a infelicidade
de ver pessoas magoadas e tristes, atingidas por palavras irrefletidas, mal
colocadas proferidas por pessoas do seu círculo de amizade ou não, que lhes
deixaram em grande aperto e em situação de total constrangimento. “É fácil
dizer o que sabe, sem saber o que diz, levando pelos ares a reputação de
pessoas, mesmos as mais íntegras. É fácil até receber o perdão de um santo
ofendido pela língua ferina. O que não é fácil ou não é possível é reparar os
danos sofridos pela vítima do difamador”. Estêvam Ângelo de Souza, profundo
ensinador das Escrituras Sagradas, gostava de contar certa história acerca de
um homem de Deus que fora atingido por um bombardeio de calúnias atirado por um
difamador, vindo a se prostrar mortalmente. O ofensor foi induzido a pedir
perdão ao moribundo. Esse respondeu: “Perdoo-lhe de todo o meu coração, mas lhe
faço dois pedidos antes de morrer. O senhor me atende?” a resposta foi:
“Atenderei”. O homem enfermo tirou de sob a cabeça um travesseiro cheio de
plumas e disse: “Vá àquele alto à frente, suba numa árvore, abra este
travesseiro e solte ao vento todas as plumas até esvaziá-lo totalmente, depois
traga o saco vazio”. Esta etapa foi cumprida com facilidade. Ao retornar, foi
feito o segundo pedido: “Volte, apanhe todas as plumas de onde caíram,
coloque-as nos lugares onde estavam e traga-me o travesseiro como estava”. O
falador injusto empalideceu e disse: “Isso é impossível, pois não sei aonde
foram levadas pelo vento”. Em suas últimas palavras, o ofendido disse: “A lição
é esta: eu lhe perdoo, mas você jamais poderá reparar os prejuízos que me
causou com as suas difamações e calúnias”.
É exatamente assim que
acontece. O difamador com suas acusações, fere, machucam e dilacera a vida
moral das pessoas trazendo prejuízos irreparáveis ao seu próximo e Reino de
Deus, sabendo que nunca irá reparar o mau que causou. Neste tempo de pastorado
tenho visto línguas venenosas causar estragos irreparáveis a indivíduos,
famílias, e igrejas locais inteiras. Chego a ficar impressionado com o tamanho
do estrago que provoca tais comportamentos. Somente uma língua incontida é
capaz de produzir resultados tão drásticos.
Estando envolvido no serviço do Reino de Deus, o cristão deve ser cauteloso em vigiar com a sua língua. Não sair por ai amaldiçoando, criticando a tudo a todos e a todas as coisas. Tiago faz a seguinte observação sobre comportamentos incoerentes que se dar à língua: “Com ela bendizemos a Deus e Pai, e com ela amaldiçoamos os homens, feitos à semelhança de Deus: de uma mesma boca procede bênção e maldição. Meus irmão, não convém que isto se faça assim” (Tiago 3.9-10). Como entender tal atitude? Como pode alguém usar sua língua em oração e louvor a Deus e em seguida usá-la para amaldiçoar, caluniar ou fazer algo parecido! A língua que dirige-se para Deus com a maior reverência, como se dirigirá agora de forma tão incoerente para o seu semelhante com gritos e insultos, amaldiçoando-os? Com este comportamento, certamente, não estamos honrando o Criador. “...não convém que isto se faça assim”.
A
língua pode tornar a vida prazerosa.
Nos versículos 11 e 12,
Tiago chama atenção para a natureza e indaga seus leitores se há alguma
possibilidade de, porventura, uma fonte lançar de si ao mesmo tempo água doce e
água amargosa e, se também a figueira pode produzir azeitonas ou a videira,
figos?
No texto, temos uma
condição desnatural. Tiago, claro, esperava como resposta daqueles cristãos,
exatamente um “não”. Ninguém, que porventura, vá visitar uma fonte espera
encontrar água salgada e água doce vindo de uma mesma origem ou uma árvore dar
dois tipos de frutos. Pelo menos o que se sabe é que a natureza reproduz-se
segundo a sua espécie.
De um verdadeiro cristão
não se admite contradições em suas palavras ou ações. Certamente, seríamos
poupados de muitos dissabores se fossemos coerentes em nossas palavras e
atitudes. A incoerência da língua revela que há algo errado com o coração. É
fácil ter amarga inveja e sentimento faccioso no coração (Tiago 3.14), sendo
que o que sai do coração é o que contamina o homem (Mt 15.18). Ter o coração
cheio da Palavra de Deus e viver na sujeição do Espírito Santo fará toda
diferença na vida do cristão, para isto, oração e meditação constante trará a
este, vida aprazível qual fontes revigorantes e árvores produtivas. Aqui cabe a
recomendação do sábio: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração,
porque dele procedem as saídas da vida” (Provérbios 4.23).
Que o Eterno Deus
tenha misericórdia de nós e nos ajude sempre!
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