Cada um se ache fiel
Por Nonato Souza.
Então, os príncipes e os presidentes procuravam achar ocasião contra
Daniel a respeito do reino; mas não podiam achar ocasião ou culpa alguma;
porque ele era fiel, e não se achava nele nenhum vício nem culpa (Dn 6.4).
Tomo este texto para esta rápida reflexão, devido à
honestidade e principalmente fidelidade de Daniel diante de mais uma crise
dentre as muitas que enfrentara durante o tempo que estivera em Babilônia.
Autoridades tomaram conhecimento da integridade de Daniel, passando a tramar
contra sua vida para destruí-lo. O texto bíblico, no entanto, revela que não
encontraram ocasião nem culpa alguma contra Daniel, porque ele era fiel.
Como o assunto em pauta é essencialmente
importante, tendo também, chamado a minha atenção, resolvi dedicar alguns
minutos do meu precioso tempo para escrever algumas linhas sobre o assunto,
objetivando, única e exclusivamente edificar o povo de Deus em sua caminhada
rumo ao céu, sua habitação.
Profeta Daniel nos momentos adversos soube se
comportar sabiamente diante das autoridades, vivendo com integridade. Era homem fiel a ponto de nunca ter sido
acusado de qualquer comportamento enganoso que viesse trair a confiança dos que
o cercavam e seus superiores. Suas palavras eram íntegras e sábias capazes de
trazer edificação aos que o ouviam. O seu comportamento honesto e fiel, acabou
suscitando nos príncipes e presidentes, inveja mortal, a ponto de deliberarem
sobre como o pegariam em alguma falta para assim, destruí-lo de uma vez por
todas.
Aqui está um assunto sério, sobre o qual quero
debruçar-me. Sei que diante da crise de integridade existente no mundo e também
no âmbito da igreja hodierna, não é tão simples assim falar de fidelidade.
Vê-se ausência de fidelidade em muito do que se faz e em muito do que diz. Há
um abismo enorme na vida de muitos, entre o que se fala e o que se pratica no
cotidiano. Isto é fato. É o que se tem visto. É claro que, em se tratando de
fidelidade, Deus espera dos que professam o Seu santo nome algo sempre à frente
desta sociedade pervertida que caminha distante de Deus.
Apóstolo Paulo enfatiza sobre os que têm
responsabilidades em proclamar as verdades do evangelho, “que cada um se ache
fiel” (1 Co 4.2). Para estes despenseiros, pesa-lhes a fidelidade a Deus e à
verdade do evangelho. Esta é uma responsabilidade que pesa diuturnamente sobre
os ombros daqueles que professam o santo nome do Senhor. Isto, porque, de forma
mais ampla, fidelidade é uma exigência bíblica que deve alcançar a todos os
servos de Deus (Ap 2.10; Gl 5.22,23).
O termo “fiel” no gr é pistós, do mesmo radical de pístis, que significa fé, fidelidade. Denota uma pessoa em quem se pode confiar plenamente, uma pessoa fidedigna e possuidora de fé. Alguém com disposição para está ao lado de Deus em qualquer momento e circunstância. Deus exige que os seus seguidores sejam fiéis. É impossível alguém se declarar fiel seguidor do Senhor Jesus, e como tal não viver o seu dia dia demonstrando essa realidade.
Ser fiel também significa ser absoluto. Exemplo de fidelidade nestes termos é Priscila e Áquila que, pela vida do apóstolo Paulo, colocaram em risco a própria cabeça (Romanos 16:4). Mesmo diante de terríveis perseguições, tinham convicções acerca de sua fé, estando dispostos a perder a própria vida por amor ao Evangelho e Paulo.
Em tempos de relativismo, onde nuvens de dúvidas
pairam sobre a mente de muitos gerando confusão, conflitos pessoais e
incertezas, é hora de voltar-se piedosamente para Palavra de Deus, crendo nas
suas verdades, confiando plenamente no que Deus pode fazer para mudar completamente
a vida daqueles que se entregam a Ele. É
fato que poucos estão dispostos a uma vida de fidelidade, quase ninguém quer
sacrificar alguma coisa do que tem em favor de Deus e Seu Reino. Precisa-se de
crentes dispostos a uma vida fiel, se possível até à morte pelo Senhor Jesus e
a causa do evangelho.
Não são os seus interesses pessoais e benefícios
próprios, a prioridade máxima do crente fiel, mas os interesses de Deus e Seu Reino.
Veja o exemplo de Hanani que foi
escolhido para o exercício de um cargo significante na casa de Deus devido sua
fidelidade e temor a Deus (Ne 7.2). Este homem preferiu ser fiel a seguir o
péssimo exemplo de outros vacilantes em sua vida de fidelidade. Sua vida de
fidelidade e dedicação a Deus e Seu Reino foi visto por seus líderes e teve
destes e de Deus aprovação.
A busca por ser fiel a Deus e Sua Palavra é um
exercício espiritual constante, que não parece ser tão simples assim, repito.
Exige-se daqueles que se comprometem, um esforço sobremodo (1 Tm 4.10). O termo
é originário do gr. agonizo, e trás a
imagem de uma atleta se esticando e contraindo os músculos ao máximo e dando o
melhor de si para vencer. Meu Deus! Que lição se pode extrair deste
entendimento! Qualquer que quiser ser fiel e se de fato buscas excelência em
Cristo Jesus precisas empreender força hercúlea para isto. É uma questão de
esforço sobremodo, com objetivo de alcançar glória, não para si mesmo, mas para
Cristo somente.
Israel, sempre foi uma nação contumaz no que
concerne sua obediência a Deus. Tudo ia bem com a nação, com o povo, de repente
se enveredavam pelo caminho da infidelidade, desrespeitando os preceitos do
Senhor. Deus, então os punia por sua contumácia e rebeldia, lhes enviando
inimigos opressores para castigá-los. Chamados ao arrependimento e mudança de
atitude, debaixo de sofrimento atroz, voltavam ao caminho do Senhor quebrados,
feridos, profundamente arrependidos dos pecados cometidos. Deus, por bondade e
misericórdia, perdoava, livrando-os das mãos dos inimigos e mostrando-lhes o
caminho a ser seguido. Observe o texto abaixo:
Se temerdes ao SENHOR, e o servirdes, e
atenderdes às suas ordens, e se tanto vós como o rei que governa sobre vós
seguirdes a Yahweh vosso Deus, então tudo vos irá bem! Todavia, se não
obedecerdes a Yahweh, se vos revoltardes contra a sua vontade, então a mão do
SENHOR pesará sobre vós e sobre o vosso rei. Tão somente temei ao SENHOR e
sirvam-no fielmente de todo o coração, pois vede quão grandes prodígios
realizou entre vós. Porém, se insistirdes em praticar o que é mal, vós e o
vosso rei sereis exterminados!” (1 Sm 12.14,15, 24,25; BKJ).
Vê-se na nação de Israel o resultado negativo de
uma semeadura de desobediência, rebeldia e infidelidade. Quando assim se
comportaram, tiveram que receber da parte de Deus a devida punição. É claro que
sempre haverá perdas e sofrimentos diante de qualquer ato de desobediência
contra a Palavra do Senhor e Sua autoridade. “Tem, porventura, o Senhor tanto
prazer em holocausto e sacrifício em que obedeça à palavra do Senhor? Eis que o
obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de
carneiros” (1 Sm 15.22).
Hoje, vivendo tempos difíceis, vê-se que muitos não
são fiéis aos princípios que norteiam a igreja. Onde estão os que dizem gostar
de orar? Nos trabalhos de oração da igreja eles não estão, pois os mesmos estão
vazios ou com um número mínimo de crentes. E os nossos jovens? Estes, raramente
os vemos nos trabalhos de orações. Cultos de doutrinas? Há igrejas locais que
há muito tempo abandonaram os cultos de ensino sistemático da Palavra, ou
porque não há ensino sistemático ou por ausência de crentes nos cultos mesmo.
Em muitos lugares, os cultos de doutrina se transformaram em verdadeiras
reuniões onde predomina movimentos cujo objetivo é massagear o ego de alguns.
Lamentável!
Estamos perdemos o prazer pela oração. Pouco se ora nas
igrejas locais e menos ainda, devocionalmente em casa. As antigas vigílias de
oração, onde costumeiramente se devotava longos períodos de orações se
transformaram em vigílias de louvor, com muito canto, sem quase nenhum período
de oração. Uma tristeza! As consequências negativas estão visíveis, aos olhos
de quem quiser ver. Perdemos também o sabor pela Palavra ministrada
sistematicamente, vagarosamente, para edificação, exortação e consolação. Estamos
enfastiados de tanta Bíblia. Queremos sempre movimentos, mais movimentos, e
muito movimento. Daí, o que se tem é muito movimento e quase nada de Palavra de
Deus. Evangelismo? Meu Deus! É melhor parar por aqui. Estamos vivendo tempos em que falamos muito e
agimos pouco. Gritamos bem alto que somos fiéis, mas nossas ações não conseguem
dizer nada dos nossos gritos. Falta fidelidade à igreja. Temos pouca mão de
obra no âmbito da igreja. Não queremos assumir compromisso com o trabalho do
Senhor. Os poucos que se submetem a realizar algo para Deus estão sofrendo com
tamanha sobrecarga. Falta fidelidade para com os pastores que diuturnamente labutam
quase que exaustos, muitos deles já sem força alguma em favor da causa do
Mestre liderando com um coração cheio de amor e compaixão, acima de tudo com
exemplo (Hb 13.17).
Se ache fiel, sinta-se fiel, viva fielmente. Esteja
disposto a viver fielmente. Não é este o sentimento que deve de fato encher os
nossos corações? Todos nós deveríamos de fato gritar bem alto por fidelidade.
Tão alto até o inferno ouvir, ouvir e estremecer. Mas que não fique apenas nos
gritos, nos pulos, nos ensaios, nos momentos de emoção. É preciso viver, viver,
viver essa fidelidade intensamente cada momento, todo dia. Isto acontecendo,
muita coisa irá mudar. O reino de Deus irá alcançar patamares jamais vistos na
história do Cristianismo. Isto, porque, a observância deste princípio irá
trazer benefícios incalculáveis à Igreja e ao crente em particular. Porém, sua
inobservância, também, irá produzir consequências negativas incalculáveis.
Neste quesito não há meio termo: ou somos fiéis
para o bem do Reino de Deus e nosso bem espiritual; ou somos infiéis para uma
vida desligada do Senhor e, portanto, completamente infrutífera. Aliás, Jesus
já havia enfatizado sobre o assunto de produzir fruto ao dizer: “Sem mim nada
podeis fazer” (Jo 15.5). A igreja local precisa sentir a força da nossa
fidelidade, isto acontecerá quando de fato assumirmos compromisso com o Senhor
Jesus, Sua Palavra, mas também com a Escola Dominical, os cultos de doutrinas,
os trabalhos de orações, o evangelismo, as contribuições e muitas outras áreas
da igreja local que estão, infelizmente, abandonadas. Isto é necessário. A
dinâmica dos trabalhos da igreja local passa pelo envolvimento de todos na
comunhão entre irmãos e a preocupação com o crescimento do Reino aqui na terra.
Somos responsáveis pelo nível e o bom andamento da igreja onde congregamos.
Gostaria de falar muitos mais sobre o assunto, mas
sei que nosso povo não tem o hábito de fazer leitura de textos longos, o que os
levaria a abandonar o mesmo. A prudência, pois, me manda parar. Eu farei isto.
Não basta simplesmente crer em princípios, na
verdade, é preciso viver neles. Observa-se que há uma concorrência muito grande
quando se quer alcançar coisas grandes que trás uma determinada posição ou
status. Há certa corrida em busca daquilo que eleva o ego. Mas, quem está em
busca das coisas pequenas? Daquelas que nenhum reconhecimento, elogios ou
status trás aos que as fazem. É de provocar dores de parto, como diria Paulo, quando
se ver cristãos viverem totalmente divorciados do modelo que receberam do
Senhor, afinal, fomos chamados como dispenseiros, e o que se requer dos
dispenseiros, é que cada um se ache fiel. Que o Eterno Deus, tenha misericórdia
de nós!
Em Cristo Jesus, nosso Fiel Salvador.
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