A influência do neopentecostalismo no movimento pentecostal clássico (4/4)


Por Nonato Souza.

“Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo vos entreguei o que também recebi; que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras” (1 Co 15.1-4; ARA; O grifo é meu).

Neopentecostalismo, um modelo que não interessa ao pentecostalismo clássico, portanto, não interessa à Assembleia de Deus.

Esse “cristianismo” estranho professado pelos neopentecostais não deveria nos atrair, embora tenha conhecimento de muitos que estão flertando com o mesmo. Coisas estranhas, igrejas locais despreparadas e totalmente distantes das doutrinas bíblicas é o que se tem visto.

A sociedade está estarrecida com o que os líderes desses movimentos estão fazendo, existe gente envolvida em situações constrangedoras acusados até de enganar o povo. Que cristianismo é esse? Escândalos, os piores possíveis, gerando descrédito e ultrajando o santo nome de Jesus. Não podemos ter esse tipo de movimento como nosso modelo.

Uma liderança que professa ser dona da igreja, que não presta conta prá ninguém de seus atos, age de forma inescrupulosa até modificando a liturgia de seus cultos ao seu bel prazer e conforme lhe convém, não serve para ser nosso modelo.

Esse é, sem duvida, um sistema contrário ao que ensina a Palavra de Deus, pois, na hierarquia bíblica, os que exercem liderança, estão também, debaixo de autoridade. Porque não seguir o exemplo de Jesus (Jo 6.38). Porque não prestam conta a ninguém? Porque a ninguém se submetem? Porque são tão cheios de autoritarismo, introduzindo nos seus cultos as mais esquisitas formas de crenças?

Ora, sabe-se que o pentecostalismo clássico vez por outra se encontra envolvido com algumas práticas próprias do neopentecostalismo, que por afastar-se tanto da pureza e verdade bíblica, não pode considerar-se como detentor do evangelho puro e simples de Cristo Jesus. Cabral [1] observa:

Temos que reconhecer que algumas verdades pentecostais têm sido substituídas por carismas pessoais em vez de unção do Espírito, louvores que fogem à verdadeira adoração e outras invencionices que comprometem o culto pentecostal autêntico. Essas substituições no seio da igreja transformaram nossos templos em locais de entretenimento em vez de adoração, e o aplauso das multidões se tornou mais importante que a presença de Deus nos cultos. Não é preciso ser radical ou extremista para reconhecer que essas mudanças têm roubado a primazia da Palavra de Deus e a ação livre do Espírito Santo no seio da igreja.

A prática com modismos e heresias no seio das Assembleias de Deus chega a preocupar tanto que o órgão maior da igreja, a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), chegou a convocar o oitavo ELAD (Encontro de Líderes das Assembleias de Deus), na cidade de Porto Seguro – BA, em outubro de 2002, para reafirmar sua posição contrária aos modismos e heresias do neopentecostalismo. Em parte do relatório do ELAD, encontramos o seguinte:

Sob o esfuziante tema “Não extingais o Espírito” o 8º ELAD trouxe a tona os fenômenos promovidos pelos movimentos neo-pentecostais como: “cair no Espírito”, “sopro do Espírito”, “bênção de Toronto”, “dançar no Espírito”, “dentes de ouro” e outras enxurradas de práticas inovadoras que andavam perturbando o seio da igreja. Nas palestras ministradas pelos pastores Jose Wellington Bezerra da Costa, Antonio Gilberto, Elienai Cabral e Elinaldo Renovato de Lima, os mais de 700 pastores e evangelistas inscritos no encontro, puderam constatar que a Bíblia não oferece nenhum respaldo para tais acontecimentos e reafirmaram que o autêntico mover do Espírito é aquele que traz avivamento espiritual, batismo no Espírito Santo e transformação na vida do homem.

Em seu artigo publicado no Mensageiro da Paz, intitulado “O Evangelho dos Evangélicos” o teólogo João Batista [2] observa que o “evangelho” dos evangélicos é mágico porque promove a infantilização em detrimento da maturidade, a dependência em detrimento da emancipação, e a acomodação em detrimento do trabalho. Ele observa ainda:

Para ser evangélico hoje, não precisa amadurecer, não precisa assumir responsabilidade, não precisa agir. Também não precisa agregar virtudes ao seu caráter ou ao processo de sua vida.

E conclui dizendo:

Por causa disso, estamos presenciando um cristianismo banalizado, onde a integridade moral está doente, a fé está à venda e os ideais éticos e os princípios cristãos de vida, ausentes no cotidiano dos nossos fiéis. Nisso cresce cada dia um cristianismo fragilizado, materialista e distanciado do cristocentrismo. A vida cristã é baseada em equívocos e o Evangelho é uma mercadoria. Deus é apenas um detalhe.

Já finalizando esse importante tema, não poderia deixar de citar o que disse o eminente teólogo Douglas Roberto [3] sobre as terríveis distorções na liturgia cristã presentes no culto de muitas igrejas hoje. Ele faz a seguinte observação:

Um novo tipo de liturgia vem sendo ensinada ao povo evangélico brasileiro. Com grande apelo para a prosperidade e a conquista fácil de objetos, muitos cristãos têm sido arrastados para a prática de uma liturgia estranha. São latentes as práticas ritualísticas que, na verdade, não passam de “simpatias” para se obter determinado tipo de bênção ou proteção divina. Nesses costumes enquadram-se água “ungida” sob o rádio ou a televisão para curar as doenças; cordões “consagrados” para “amarrar Satanás”, e outros tipos de “talismãs” que servem de verdadeiras muletas para os deficientes na fé. Em algumas igrejas, músicas e danças judaicas foram inseridas em um retorno insensato às práticas judaizantes. Melodias e ritmos estranhos foram inseridos no culto. Procura-se introduzir coreografias sensuais e expressões corporais de cunho duvidoso durante a ministração do louvor. Em algumas igrejas imprimem em seus cultos elevada dose de emocionalismo falsificado de pentecostalismo. Em tais lugares, o espaço é ocupado pelo louvor pessoal, músicas de origem mundana e letras de conteúdos suspeitos, modismos neopentecostais, ostentação de espiritualidade duvidosa e ministração de mensagens de autoajuda de exegese indefensável em detrimento do genuíno Evangelho do Senhor Jesus Cristo.

Bem, preciso concluir, pois o texto que escrevo já se alongou muito. Estou convicto ser de extrema importância que a igreja se apegue ao ensino bíblico do Senhor até que venha. A Igreja tem o Evangelho, e este é suficiente. Estou ciente que, haverá alguns que sempre estarão dispostos a acrescentar novas experiências, novas exigências, novas cargas, novas bagagens, novas fórmulas àquilo que o evangelho tem de mais puro. Fica claro, porém, que o Evangelho de Cristo não precisa de mais pesos adicionais.

Conclusão:

Encerro esse texto dando ênfase à mensagem que tanto amo e sei o quanto está escassa atualmente nos púlpitos das igrejas brasileiras. Sei, que estar em Cristo a mensagem do amor de Deus (Jo 3.16), que derramou seu sangue na cruz, abrindo para a humanidade um novo e vivo caminho de salvação (Hb 10.20).

Sei também, que esta mensagem nos é suficiente. Não precisamos de mais acréscimos. Na verdade, queremos um retorno à mensagem pura e simples do Evangelho Cristocêntrico.

Estou enfadado, empanturrado de tanta mensagem antibíblica, centrada no homem, cujo objetivo é apenas inflamar o seu ego.  Este tipo de evangelho que se tem pregado em nossas igrejas tem trazido grande prejuízo ao Reino de Deus.

Quero de volta o evangelho da cruz, pois este revela ao homem qual seu verdadeiro estado diante de Deus. Quero o evangelho da cruz porque ele trás paz ao coração aflito (Cl 1.20). Quero o evangelho da cruz, por ele somos curados (Is 53.5). Quero o evangelho da cruz porque “é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Quero o evangelho da cruz, pois por ele somos santificados (Ef 5.26). Quero o evangelho da cruz, pois nele todas as barreiras da desunião, separação existentes entre nós, são derrubadas (Ef 2.14,16). Quero o evangelho da cruz porque nele eu aprendo que Cristo morreu pelos nossos pecados segundo as Escrituras, que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras (1Co 15.3,4). Quero o evangelho da cruz, porque proclama, e eu posso acreditar que Jesus voltará outra vez (At 1.11). Quero o evangelho da cruz porque assegura que haverá um dia de prestação de contas tanto para crentes como para descrentes (1Co 3.13; 2Co 5.10; Ap 20.12). Quero o evangelho da cruz porque ele me assegura que na glorificação teremos corpos glorificados e estaremos para sempre com o Senhor (1Ts 4.13-18). Quero o evangelho da cruz, nele todas as promessas bíblicas estão asseguradas para aqueles que um dia entregaram suas vidas ao inteiro domínio e senhorio de Cristo (Mt 7.21; 2Co 1.20).

Porque continuar pregando outro evangelho cujo alvo tem sido, através dos falsos ensinos, afastar os santos da verdadeira doutrina e graça de Cristo. Somos ensinados pela Palavra de Deus que há um só evangelho, “o evangelho de Cristo” (Gl 1.7), evangelho este que nos veio “pela revelação de Jesus Cristo” e pela inspiração do Espírito Santo. Qualquer ensino que se origina em pessoas, igrejas ou tradições que não se baseiam nos princípios da Palavra de Deus, não pode ser tido como conteúdo do verdadeiro evangelho de Cristo.

É hora de voltarmos ao evangelho da cruz. Igrejas estão vivendo crises, as piores possíveis. O liberalismo teológico, negando os postulados da fé cristã abarcou em muitas igrejas. Outras estão envolvidas com misticismo sincrético, movimentos estranhos à Palavra de Deus. O mal do pragmatismo entrou no coração de muitos, que estão em busca de sucesso e resultados a qualquer custo. A mensagem da cruz foi trocada pela pregação da prosperidade, mensagens puramente positivista e triunfalista.

Voltemos à mensagem da cruz. O neopentecostalismo não tem nada a nos oferecer. Não temos outra opção. “Porque a palavra da cruz é loucura para os que perecem; mas para nós, que somos salvos, é o poder de Deus” (1Co 1.18).

Que o Eterno Deus se compadeça de nós!



Notas:

[1] Cabral, Elienai. Movimento Pentecostal, as doutrinas da nossa fé. CPAD, pg. 77,8.
[2] Mensageiro da paz. CPAD, nº 1528, pg. 16, setembro 2012.
[3] Batista, Douglas Roberto de Almeida. Obreiro Aprovado – Liturgia Cristã Bíblica, pg. 28, CPAD, nº 59.

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